CARO, MEU CARO.
Domingo acordei tarde. Conforme falei, me esbaldei na Appaloosa na madrugada anterior e o corpo pediu cama por toda a manhã. Por isso, creio que pela primeira vez num domingo neste ano não comprei meu tradicional exemplar do "O Globo". Nem do "Extra". Era o presságio de que Deus não queria que eu visse o Caderno Especial do Vale do Paraíba que "o Globo", agora com parceria de seu jornal para a classe C, "Extra", faz todo ano para morder verbas públicas na região. Fazem anos que tenho o prazer de botar para correr os corretores do jornal quando me visitam na Câmara Municipal. Esta organização jornalística nunca teve muito respeito pelo nosso povo, mas adora nosso dinheirinho. Mas enfim, fiquei livre de ver o Caderno. Ledo engano. Acabei de receber o exemplar aqui na Câmara, e desta vez a Prefeitura de Barra Mansa se superou no esbanjamento. São VINTE PÁGINAS COLORIDAS no encarte, patrocinadas pela prefeitura. Eu tenho até medo de ver daqui a meses no balancete da PMBM o quanto isto custou para a cidade. Mas tenho uma certeza: Caro, meu caro.
Mas isso não era o pior. O carro chefe das matérias pagas e feitas em exaltação a administração em troca das já mencionadas polpudas verbas públicas era o Projeto Música nas Escolas, e tinha o seguinte título: “NOS ACORDES DA EXCELÊNCIA – PROJETO MÚSICA NAS ESCOLAS ENSINA MÚSICA A 22 MIL ALUNOS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO”. Na ampla matéria paga, existem depoimentos de Isaac Karabtchevisky e Joaõzinho Trinta, enaltecendo o projeto. Não tenham dúvida que os dois talentos inegáveis também já foram aquinhoados com nosso suado dinheirinho para manifestar tal gratidão. Até aí, vá lá. Mas o que mais me impressionou foi o desfecho da matéria, que reproduzo integralmente:
“Prova dessa elevação de autoestima foi dada por um aluno de 10 anos, que, ao ser perguntado se queria ser músico quando crescesse, respondeu: “Mas eu já sou músico!” Desse jeito, com certeza o palco não será o limite”
Eu não sei, nem a matéria falou quem é esse inocente de 10 anos. Mas filho, seu palco nunca será o limite em nossa cidade, mas sim os limites da nossa cidade, onde os palcos estão vetados, a música proibida e os bares fechando. Os músicos são discriminados e nossa cidade não tem hoje, absolutamente nada de auto-estima. Estude música sim, mas procure outra profissão paralela ou outra cidade, pois aqui não há espaço para felicidade, lazer e arte, na visão das últimas administrações.
Diz ainda o parágrafo anterior ao desfecho “apoteótico”, que o através do projeto, os jovens conquistaram autoestima, dignidade e reconhecimento através da música.
Caros jovens, é exatamente o contrário o que nossa cidade está oferecendo aos músicos adultos. Só vemos desrespeito, preconceito e abandono. Não caiam nessa. Lutem com a gente para que a arte e a música tenham sim, espaço assegurado em todos os nossos arredores para que em breve futuro possamos absorver o talento de vocês, e não coloca-los à margem da sociedade num processo de marginalização que machuca a todos que realmente gostam de música e lazer, e contrariam notoriamente aqueles que simplesmente a usam com fins eleitoreiros e politiqueiros e são os arautos da ditadura do silêncio que assola Barra Mansa. Caso contrário, o custo para a sociedade, com ênfase para esses jovens músicos e suas famílias, será como o custo da propaganda: Caro, meu caro.
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