CONVERSA PRA BOI DORMIR.

ESPANTADOS? POR QUÊ?

O Ministro Presidente do STF, Joaquim Barbosa, causou polêmica com suas declarações contrárias ao sistema político brasileiro em voga neste País. Não entendi o motivo. Não entendo o espanto e a revolta de nossos congressistas. Quem não sabe ou é testemunha da hipocrisia imperante em nossos partidos políticos? Milito na política há décadas, e desconheço quem leu um programa partidário antes de assinar sua ficha de filiação em qualquer legenda. Eu mesmo, jamais li, e por isso hoje optei por não ter partido algum. Para dizer a verdade, quando me solicitaram para presidir provisoriamente uma legenda partidária, fiz o esforço para ler o estatuto do partido, mas confesso que não me identifiquei com vários tópicos e assinei assim mesmo. Não existe partido político ideológico neste país. O único que dava vestígios, quando oposição, de ter uma militância fiel a sua ideologia documental, era o PT, mas bastou galgar o poder para mostrar que é exatamente igual (ou até pior) que todos os demais. Fusões ou extinções partidárias são realizadas, sem consulta as bases, todos os anos. Decisões de lideranças são tomadas por simples desejos pessoais e egocêntricos de seus mandatários sem nenhum respeito ao que está escrito no compromisso estatutário de suas siglas políticas. Em todos os municípios brasileiros os políticos locais se agrupam ou desenlaçam visando tão somente uma melhor chance ou visibilidade eleitoral sem nenhum compromisso programático sendo avaliado previamente. Isso é rotina e não motivo de espanto. Nossa democracia é consolidada, graças a Deus, mas isso não significa que a ideologia impera nos rumos adotados pela classe política. Se um Ministro do STF, na qualidade de seu presidente, não pode abordar esse tema tão banal, é sinal que há uma velada ditadura querendo se implantar nos meios de comunicação e expressão. Isso sim é perigoso.

Joaquim Barbosa acusa o Congresso se ser vaca de presépio da Presidência da República.  Todo brasileiro não beócio sabe dessa verdade. A única exceção foi quando a Rede Globo intercedeu para colocar a população contra Collor de Melo e o Congresso, de forma casuística e oportunista, embarcou no modismo dos caras pintadas pelas mãos de Roberto Marinho e seus 'intelectuais' de plantão.

Joaquim Barbosa recomenda o fim do voto obrigatório. A maioria absoluta da população brasileira concorda com isso. Mas isso ainda é muito pouco e não gera nenhum motivo de alarde, pois jamais mudaremos o quadro de consciência nacional enquanto não for realizado um investimento maciço e real, e não apenas piegas e publicitário, na educação. Só a partir daí, após algumas décadas, poderemos, de fato, nos politizarmos e evoluirmos nas questões políticas conceituais. O resto é conversa para boi dormir. Disso o Congresso e o inferno estão cheios.