HOMENAGEM OU PRECONCEITO?

CONCEITO NEGRO.

Parece implicância, e de fato, acaba sendo. A culpa é dos fatos e não me esquivo deles.

A Fundação de Cultura de Barra Mansa está divulgando atividades que estão previstas para ocorrer amanhã, no dia da Consciência Negra. Estão sendo anunciadas, a partir das 10 horas, apresentações de capoeira, maculelê, dança de rua, umbanda e roda de samba. Só que os 'competentes' organizadores não informaram o local. Após consulta formulada por uma amiga de Facebook, descobriu-se que as atividades serão realizadas no 'corredor cultural'. Dava para imaginar, mas ficam em aberto perguntas que não querem calar: quarta-feira, dia do evento, não é o dia da semana destinado para o local abrigar a 'Feira Livre'? Será que os intrépidos membros da Fundação de Cultura e o seu líder superintendente se esqueceram dessa agenda? Será que os feirantes foram previamente comunicados de uma suposta provisória transferência ou cancelamento de atividades? E os clientes habituais da feira, que se danem? Como farão os barraqueiros ambulantes autorizados e contribuintes da prefeitura que foram obrigados a sair da calçada da Rua Duque de Caxias? Também terão que dividir espaço com os feirantes e os capoeiristas, sambistas, macumbeiros e etc.? 

Independente dessa desorganização, que já se tornou contumaz, acho que assim como o programa "Esquenta" da Regina Casé, a Fundação de Cultura peca por preconceito contra a comunidade negra. Acho um absurdo querer estereotipar todo negro de capoeirista, funkeiro, pagodeiro ou macumbeiro. Para quem interessar possa, existem milhões de negros que cultuam a música clássica, são veneráveis leitores de boas edições, são obreiros fiéis nas mais diversificadas religiões e credos, e apreciam ou praticam diversas outras artes marciais ou gêneros de dança. Acho importante louvar a origem da descendência negra no Brasil e registrar o seu histórico e tradições, mas não podemos correr o risco de projetarmos o futuro da comunidade negra de forma desigual, mesmo que seja para beneficiá-los, em iniciativas estritamente preconceituosas e hipócritas tal como as 'cotas para negros' nas universidades. Quem faz muita questão de distinguir a cor de uma pessoa é quem realmente nutre um velado preconceito contra ela. Negros e negras que se garantem, e existem milhões, graças a Deus, não precisam de exceções, precisam é de respeito e tratamento igualitário, assim como todo ser humano, independente de seu credo, cor, ideal, condição sócio-econômica, idade, sexo ou orientação sexual. O caminho para se apostar no respeito pela diversidade, não é, nem jamais será, eficaz quando ressalta demasiadamente as diferenças. Isso se chama demagogia e humilhação inconsciente, e disso já estamos fartos.

Lamento muito que eu tenha lutado tanto para mudar algumas óticas torpes e hipócritas na minha cidade, especialmente no segmento cultural, e hoje seja obrigado a constatar que o que parecia impossível de se piorar, acabou acontecendo.