terça-feira, 27 de abril de 2010

BELO MONTE DE PROBLEMAS.


O NEGÓCIO ERA FECHAR NEGÓCIO.

O governo Lula fechou mais um de seus meganegócios na semana passada. Levou a leilão a megahidrelétrica de Belo Monte, com seus 11 mil megawatts de problemas. Questionada por todos os lados, a usina foi arrematada com um balde de subsídios públicos, sob variadas formas. Isso significa que ninguém sabe ao certo o quanto esta extravagância custará no nosso bolso, mas o petismo parece não se importar com isso: o negócio era fechar negócio.
É evidente que uma usina como Belo Monte é estratégica para o futuro do parque gerador nacional. Não se discute isso. É importante para assegurar o suprimento de energia pelos anos de crescimento econômico que Deus permita que venham adiante. Portanto, um projeto alvissareiro. Mas isso não significa que se devesse pagar qualquer preço para tê-la. A escolha não é entre fazê-la ou não, mas sobre como fazê-la.
Belo Monte poderá ser a terceira maior hidrelétrica do mundo, mas da forma como foi fechado o negócio, é como uma espada sobre nossas cabeças. Ao longo destes mais de 20 anos de discussões, a extensão da área inundada diminuiu bastante, atenuando os impactos ambientais. Isso é ótimo. Mas mesmo atenuados, tais efeitos danosos persistiram, sem que se saiba ao certo quais dimensões alcançam. E isso é péssimo. Como começar a construir algo tão gigantesco com tantas dúvidas envolvidas? Este é apenas um aspecto do problema. Antes da usina ter sido leiloada na semana passada, o TCU, o Ibama e o Ministério Público já haviam feito dezenas de ressalvas e apresentado um monte de questionamentos sobre o projeto. O governo Lula deu de ombros e manteve o curso de seu cronograma. Para o PT, como se sabe, o negócio era fechar o negócio.
As várias questões sombrias como a dimensão dos impactos sócio-ambientais, custos do investimento e a participação de fontes públicas de financiamento, poderiam ter sido mais bem resolvidas por meio da participação de especialistas independentes. Mas, não: tudo continua sendo feito entre quatro paredes. O que importa é fechar o negócio.
Havia alternativas que poderiam ter reduzido riscos e até ter incentivado maior competitividade no leilão. Mas, tal como ocorreu, a concorrência acabou restrita. Uma destas alternativas era a que previa a motorização da hidrelétrica em duas etapas. O governo Lula deu de ombros.
Sob Dilmatraca e seu modelo econômico, tão feio quando o modelo de suas roupas, o complicado setor elétrico transformou-se numa colcha de retalhos. A transparência é mínima, num ambiente em que ninguém sabe ao certo quanto se paga pela energia que se consome e isso inclui você, caro leitor, e a fatura que todo mês a sua concessionária lhe entrega. Neste ambiente caótico, cada um dos agentes puxa a sardinha para sua lata, buscando assegurar vantagens. O governo aceita, porque só quer fazer negócio.
Belo Monte, da forma como foi licitada, põe mais um retalho nesta colcha. Alguém sabe quanto ela vai custar? Provavelmente não. Fala-se em R$ 19 bilhões e em até R$ 30 bilhões, sem contar os custos dos linhões de transmissão. Esta é uma questão fundamental para a definição de uma tarifa adequada e justa para o consumidor, mas o governo Lula se importa com isso? Foda-se a gente.
O governo estabeleceu um teto para a tarifa que pareceu irreal aos interessados mais acostumados às lides de geração de energia, mas não assustou ao frigorífico que aceitou correr o risco da empreitada e entrou o negócio. Generosos financiamentos do BNDES e outros bilhões em incentivos fiscais sustentaram a empreitada. A hiperhidrelétrica brasileira está agora nas mãos de um matadouro. É como entregar Itaipu para o Helinho Pé-de-Couve.
Aos poucos vai se sabendo de outras tantas “ajudinhas”, como a que revelou O Globo em sua edição de ontem: na semana passada, o frigorífico vencedor acabara de abocanhar uns milhõezinhos do FGTS. Coincidência? Não custa lembrar: o dinheiro do FGTS é de todos os trabalhadores do país, nosso fundo de garantia para o futuro, por que então empregá-lo em empresas cuja gestão mostra-se temerária, como afirma o jornal?
Não será surpresa se, quando o calo apertar, a Aneel ou o governo de plantão espetarem alguma conta na fatura dos consumidores, mais uma sopa de letrinhas que ninguém sabe ao certo o que é, mas que servirá para lembrarmos ainda por um longo tempo da viagem na maionese que o governo Lula protagonizou e os custos que isso nos legará. Parece incrível, mas Belo Monte ainda pode nos sair muito mais caro do que podemos imaginar. Mais para Lula, o negócio era fechar negócio. Foda-se a gente.

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