OS RISCOS DOS RAIOS DE "SOL".

MEU MODESTO (e gasto) FILTRO SOLAR PARA OS SECRETÁRIOS MUNICIPAIS.

Estou no serviço público há muitos anos. Já trabalhei para administrações de políticos do PDC, PDT, PT, PMDB, PSDB, PFL, DEM, PRP, PSC, PV, e com todos mantive uma relação profissional e respeitosa. Isso deve ter me dado uma certa experiência para abordar o assunto desta postagem: alguns novos secretários municipais de Barra Mansa correm o risco de não perdurarem muito tempo no cargo por falta de comedimento.

Um secretário municipal tem que entender que, acima de suas vaidades, ele está a serviço de um ente "político" e "está" nomeado por ele. Cabe aos secretários, a inglória tarefa de dizer "NÃO", cabendo ao prefeito, líder escolhido pelo povo, o agradável papel de dizer "SIM". A inversão desta premissa é perigosa e desgastante. Tem secretário novato achando que vai posar de "herói" nessa história. Ledo engano. Se houver algum herói, ele atende pelo cargo de prefeito. O riso simpático  dos secretários de hoje, com passar do tempo transformar-se-á num olhar mais defensivo e até mesmo, antipático, para os que sobreviverem as agruras do mistér. Várias vezes fiz o papel de vilão, mesmo contra minha vontade íntima, para preservar a imagem de meus patronos. Nunca fui obrigado a aceitar cargo nenhum, mas ao aceitá-lo, tive o dever de honrá-lo e retribuir com gratidão. Até agora, sobrevivi, a despeito da inveja de alguns.

Para os que acham que o cargo de secretário municipal é um "trampolim" político ou "atalho" para aspirações eleitoreiras, lembro que  foram poucos os secretários municipais que obtiveram êxito na vida política eleitoral, com exceção daqueles que foram previamente "blindados" para tal fim. Ser secretário não é um meio de fazer política. Literalmente é o "fim", com raríssimas exceções.

Visualizemos um show do Roberto Carlos. Milhares de pessoas vão lá para assisti-lo. Ele é o astro maior do evento. Mesmo que até o maestro Eduardo Lages tenha o seu séquito de admiradores, os holofotes principais são todos dirigidos para o Rei. Na coxia, existem dezenas de profissionais trabalhando para que tudo ocorra como o planejado e se atinja o sucesso esperado. Todos são importantes, mas o Astro, único, é o Rei. Roberto Carlos não discute com produtores locais, não reclama de hotel, não se exaspera com o som, não define estratégia de palco, não se desgasta com absolutamente ninguém. Os profissionais escolhidos e pagos por ele é que têm esses árduos papéis e incumbências. Roberto Carlos apenas canta, encanta e recebe aplausos, glórias e fãs. Foi escolhido para isso pelo povo, assim como o prefeito também o é. É preciso que os músicos, vocalistas, carregadores, camarineiros, técnicos e demais profissionais do show estejam afinados e cientes de suas limitadas funções. Nas prefeituras não é diferente. Cada secretário é uma peça da engrenagem, mas quem brilha, exclusivamente, é o Astro Rei. Esse é o jogo. Essa é a regra.

O governo do prefeito anterior em Barra Mansa foi um retumbante fracasso, todos sabem disso, mas por pouco, quase se reelegeu. Saiu com uma figura chamuscada como administrador, mas tem muita gente que tem até peninha dele. Dizem por aí, rotineiramente: "Zé Renato é um bom sujeito, pena que  foi muito mal assessorado". Percebam que esse é o papel que os secretários dele, mesmo alguns venais e incompetentes, cumpriram com êxito e disciplina: proteger o prefeito e dar-lhe somente os méritos. Vejam que mesmo com toda a sorte de irregularidades administrativas e malogros constantes, permaneceram, alguns secretários, doze anos no comando e prosperidade.

Percebo também alguns secretários extremamente preocupados em afastar possíveis "sombras" de seu lado. Essas "sombras", são pessoas que de alguma forma poderiam colocar em risco os seus objetivos, cargos e sonhos pessoais. É bom lembrar que uma pessoa quando se sente ameaçada em sua função, tende a produzir mais e melhor. Cito como exemplo, profissionais de grandes times de futebol que quando sabem que têm no banco, atletas com capacidade para substituí-los à altura, esmeram-se em atuar cada vez mais eficientemente.

Observo também que têm secretários pleiteando uma exposição de luz solar e midiática maior do que o próprio artista principal, que é o prefeito. Isso causa inevitável mal estar. Ardem sem perceber, no calor dos raios 'ultravioleta' e na chama invisível e venenosa do egocentrismo.

Para esses dois casos citados acima, quero lembrar que afastar as sombras coloca a pessoa em alta exposição solar, que chega a causar queimaduras de primeiro grau, eternas e incorrigíveis. Nunca esqueçam que o grande paradigma da tranquilidade é "sombra e água fresca". Sem uma boa sombra, até a água esquenta e perde o frescor.

Quero também lembrar que ao se aproximar muito do Astro Rei, o Sol, as queimaduras também tornam-se inevitáveis e incuráveis, até que o exposto desintegre e suma no espaço. Jesus Cristo, o Mestre dos mestres, o Maior dos sábios, recomendava o comedimento de exposição para não se fragilizar. Está na Bíblia.

Sinto que dentro do governo já existem divisões movidas por vaidades e rancores. Voltando as regras do futebol, lembro que quando um time vence, todos ganham, e quando perde, todos perdem. Na administração municipal não é diferente. Não haverá metade de secretários vitoriosos nem metade de secretários derrotados, na vitória ou na derrota do governo. Ou todos perdem, ou todos ganham. Por isso, recomendo a união, mesmo com algumas náuseas eventuais difíceis de suportar, pois ganhar é sempre melhor.

Vejo também que alguns secretários ainda não entenderam a importância dos vereadores. Sejam bons ou ruins, vereadores foram escolhidos pelo povo, e respeitá-los, é acatar, com decoro, a sublime vontade popular. Você pode até ter uma preferência pessoal por um ou outro, e tratá-lo com uma deferência mais afetiva, porém o respeito e atenção é devida a todos, sem exceção. O secretário é um servidor do povo, o grande patrão, e o vereador é o representante legítimo dele. Se o "patrão" (o povo) escolheu bem ou mal,  não cabe ao secretário julgar, pois isso não é uma prerrogativa sua, embora alguns, desavisados e iludidos, pensem que sim.

Da mesma forma percebo que alguns desprezam até mesmo a figura do presidente do Poder Legislativo. Por analogia, como o presidente é escolhido pelos vereadores, e esses por sua vez, são os escolhidos do povo, o presidente torna-se o "escolhido dos escolhidos". Hão de convir que não se trate de pouca coisa e seu representante deve ser tratado com apropriada reverência.

Tem gente que acha que minha longevidade no serviço público se dá por conchavos, negociatas escusas ou bajulações. Quem me conhece, de fato, sabe que não aprecio tais condutas e não sou "expert" em nenhuma delas. Preferem não enxergar que isso é fruto de compromisso, lealdade, dedicação e trabalho, observando, sempre, as regras acima, que podem batizar de Cartilha do "Julinho" para novos candidatos a longo exercício de vida pública. Esse é meu simplório, mas eficiente, "filtro solar". Sirvam-se, se assim desejarem, pois gostaria vê-los, todos, ao final do Governo, e que esse seja eterno, enquanto dure, assim como o amor na visão de Vinícius de Morais.