CHEIO DE MANIAS
PUBLICADO EM 06 DE NOVEMBRO DE 2009.
PUBLICADO EM 06 DE NOVEMBRO DE 2009.
ELE SABIA...
Um bem sucedido empresário residente em Barra Mansa, que omitirei o nome em respeito, ficou folclórico na região pelo seu mau humor e sua autenticidade bruta. Tinha poucos amigos, mesmo gozando de sólida condição financeira. Não era elegante nem cortês, mas sua personalidade forte tinha certo charme. Era um homem que viveu platonicamente duas paixões intensas e amava, de um jeito muito peculiar, os seus filhos. Economizava palavras, mas quando as soltava causava impacto devastador. Tínhamos conhecidos comuns e não sei certamente o porquê de passar a fazer parte do restrito rol de seus afetos nos seus últimos meses de vida.
Um certo final de tarde de verão, com dia claro devido ao horário especial da temporada, dias antes de sua morte por enfarte, que foi tão forte que fez até barulho, ele me solicitou que largasse a roda de baralho em que estava para lhe fazer companhia na sua mesa. Pediu gentilmente, o que era raro, para que eu pudesse compartilhar com ele alguns momentos de silêncio. Apesar de insólito, aceitei o convite, pois percebi que ele precisava de companhia naquele momento, o que dificilmente ele demonstrava. Não gostava de aparentar fraquezas. Seus negócios exigiam pulso forte e ele tinha que manter a sua imagem austera. Pediu uma cerveja, serviu meu copo, colocou seus óculos escuros e começou a mirar o além, perdido nos seus pensamentos tão incógnitos. Respeitosamente acatei o silêncio. Passada mais ou menos meia hora deste encontro tão singular, ele proferiu as primeiras palavras: - Julinho, um amigo meu pensou em se suicidar. Perguntei qual o motivo. Ele respondeu que o amigo tinha descoberto que sua filha solteira estava grávida. Evidentemente nenhum de nós dois vimos motivo para atitude tão extrema. Sabia que o que ele falou era prenúncio de outros impactos provocados no seu íntimo. Mas respeitei o seu pesar mesmo sem entender o porquê. Minutos passaram, ele pediu a conta, pagou, tomou o último copo, e ao se despedir e agradecer, me confidenciou: -Eu daria a minha vida para passar pelo mesmo problema. Entendido.
Todos achavam que ele não sabia das preferências sexuais pouco convencionais de sua filha. Elee sabia. E sofria do seu jeito. Não compartilhava compaixão com ninguém. Era um ser humano como outro qualquer coberto por uma forte armadura de aço, mas frágil perante os dissabores da vida. Por seus conflitos internos, era um homem cheio de manias e sistemas peculiares. Em sua homenagem fiz uma letra, não póstuma, mas como se ele estivesse ainda aqui perto de nós. Talvez esteja.
CHEIO DE MANIAS
Uma voz que vem de dentro
Uma dor que vem do fundo
E em menos de um segundo
Volto a me dissimular
As histórias que carrego
São amargas, são sofridas
São resquícios de outras vidas
Onde busco me encontrar
Os amigos que eu tive, foram bar e utopia
As mulheres que me amaram, foram sexo e prazer
Os minutos de alegria, foram frios e vazios
Os amores que eu tive, acho que “inda” vou ter
Nos ofícios que me deram
Fui de Rei à vagabundo
E nas voltas desse mundo
Eu dancei sem ter um par
As pessoas que me deram
Tanto gosto e fantasias
Já partiram dessa vida
São enfeites do luar
Os sonhos que eu carregava, por meus dedos escorreram
As bravatas que eu contava, já calaram, já morreram
E os bens que possuí, já são pagina virada
Já não valem meu apreço, já não valem nada
Por isso sou cheio de manias
E as alegrias teimam em me deixar
Por isso canto essas nostalgias
E quem sabe um dia, vou comemorar.
Um bem sucedido empresário residente em Barra Mansa, que omitirei o nome em respeito, ficou folclórico na região pelo seu mau humor e sua autenticidade bruta. Tinha poucos amigos, mesmo gozando de sólida condição financeira. Não era elegante nem cortês, mas sua personalidade forte tinha certo charme. Era um homem que viveu platonicamente duas paixões intensas e amava, de um jeito muito peculiar, os seus filhos. Economizava palavras, mas quando as soltava causava impacto devastador. Tínhamos conhecidos comuns e não sei certamente o porquê de passar a fazer parte do restrito rol de seus afetos nos seus últimos meses de vida.
Um certo final de tarde de verão, com dia claro devido ao horário especial da temporada, dias antes de sua morte por enfarte, que foi tão forte que fez até barulho, ele me solicitou que largasse a roda de baralho em que estava para lhe fazer companhia na sua mesa. Pediu gentilmente, o que era raro, para que eu pudesse compartilhar com ele alguns momentos de silêncio. Apesar de insólito, aceitei o convite, pois percebi que ele precisava de companhia naquele momento, o que dificilmente ele demonstrava. Não gostava de aparentar fraquezas. Seus negócios exigiam pulso forte e ele tinha que manter a sua imagem austera. Pediu uma cerveja, serviu meu copo, colocou seus óculos escuros e começou a mirar o além, perdido nos seus pensamentos tão incógnitos. Respeitosamente acatei o silêncio. Passada mais ou menos meia hora deste encontro tão singular, ele proferiu as primeiras palavras: - Julinho, um amigo meu pensou em se suicidar. Perguntei qual o motivo. Ele respondeu que o amigo tinha descoberto que sua filha solteira estava grávida. Evidentemente nenhum de nós dois vimos motivo para atitude tão extrema. Sabia que o que ele falou era prenúncio de outros impactos provocados no seu íntimo. Mas respeitei o seu pesar mesmo sem entender o porquê. Minutos passaram, ele pediu a conta, pagou, tomou o último copo, e ao se despedir e agradecer, me confidenciou: -Eu daria a minha vida para passar pelo mesmo problema. Entendido.
Todos achavam que ele não sabia das preferências sexuais pouco convencionais de sua filha. Elee sabia. E sofria do seu jeito. Não compartilhava compaixão com ninguém. Era um ser humano como outro qualquer coberto por uma forte armadura de aço, mas frágil perante os dissabores da vida. Por seus conflitos internos, era um homem cheio de manias e sistemas peculiares. Em sua homenagem fiz uma letra, não póstuma, mas como se ele estivesse ainda aqui perto de nós. Talvez esteja.
CHEIO DE MANIAS
Uma voz que vem de dentro
Uma dor que vem do fundo
E em menos de um segundo
Volto a me dissimular
As histórias que carrego
São amargas, são sofridas
São resquícios de outras vidas
Onde busco me encontrar
Os amigos que eu tive, foram bar e utopia
As mulheres que me amaram, foram sexo e prazer
Os minutos de alegria, foram frios e vazios
Os amores que eu tive, acho que “inda” vou ter
Nos ofícios que me deram
Fui de Rei à vagabundo
E nas voltas desse mundo
Eu dancei sem ter um par
As pessoas que me deram
Tanto gosto e fantasias
Já partiram dessa vida
São enfeites do luar
Os sonhos que eu carregava, por meus dedos escorreram
As bravatas que eu contava, já calaram, já morreram
E os bens que possuí, já são pagina virada
Já não valem meu apreço, já não valem nada
Por isso sou cheio de manias
E as alegrias teimam em me deixar
Por isso canto essas nostalgias
E quem sabe um dia, vou comemorar.
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