O MANIFESTO QUE VI, LI E SENTI.

PRÓS E CONTRAS.

Ontem ocorreu a 3ª manifestação de protestos em Barra Mansa. Cerca de 200 pessoas, número muito inferior ao contingente percebido nas primeiras manifestações, impediram o tráfego ferroviário na cidade e paralisaram o trânsito no Centro por cerca de quatro horas.

Vendo postagens no facebook e a cobertura jornalística da manifestação, associado ao que vi ao chegar de Rialto, onde a Câmara Municipal realizou uma sessão itinerante incluída nas programações do evento, me remetem às seguintes considerações pessoais e me perdoem os que pensam diferente, mas assim como qualquer cidadão, também tenho o direito de me manifestar livremente:

1. Nada mais justo do que protestar contra o tráfego ferroviário na cidade, que além dos acidentes gerados que já ceifaram inúmeras vidas e órgãos do corpo humano de nossos irmãos, polui a cidade, sonora e atmosfericamente, sem nenhuma contrapartida para a Municipalidade. Mas o pior, muito pior, é o "estrago" que essas operações fazem na economia da cidade. Hoje, qualquer empresa de grande porte, para se instalar num município e gerar empregos, analisa minuciosamente a qualidade de vida oferecida para seus futuros supostos servidores e empregados. Quando uma cidade não tem mobilidade urbana confiável e um sistema adequado e ágil de saúde, educação e  lazer, indiretamente isso afeta na produção e na comercialização de seus produtos, e no final da conta,  influi negativamente na margem desejada de lucro e expansão comercial. Uma cidade que se paralisa a qualquer horário, sem prévia notificação, ao bel prazer da MRS e da FCA, gera atrasos, faltas, improdutividades, etc... Uma cidade onde uma ambulância conduzindo paciente terminal tem que esperar uma manobra ferroviária, não atrai nem seduz nenhum investimento de grande porte. Essas são as realidades fétidas que essas concessionárias nos oferecem.
Esperamos as verbas do governo federal para as obras de readequação ferroviária. Isso é muito cômodo para essas empresas que deveriam por sua própria conta, realizar esses investimentos para terem mais agilidade e eficácia em suas operações. O governo federal vai investir, ou seja, nós é que iremos pagar, para que essas duas gananciosas empresas incrementem ainda mais os seus lucros inescrupulosos. Sendo assim, me solidarizo permanentemente a favor de qualquer manifestação que gere reflexão e prejuízo para os responsáveis pelas decisões dessas duas concessionárias que interrompem o nosso dia a dia a revelia de nossa gente, matam e mutilam munícipes, buzinam estridentemente poluindo nossos ouvidos e com suas cargas desenlonadas e descobertas, espalham pó de minério no ar, gerando asmas, bronquites, poluições, e outros males à nossa saúde. Confesso, que se me fosse possível, faria ainda pior, mas como sou contra vandalismos, me contenho. Não sei até quando.

2. Quando cheguei de Rialto, por volta de 22 horas, fiquei orgulhoso pelo manifesto. Porém, hoje, ao perceber outras informações, meu orgulho arrefeceu. Paralelamente a paralisação temporária das atividades ferroviárias, o manifesto também impediu o trânsito no Centro, fazendo com que estudantes e trabalhadores, cansados por mais um dia de labuta e estudos, fossem impedidos de retornar para suas casas durante mais de quatro horas. Ora, o movimento é a favor dos passageiros de ônibus ou contrário a eles? Li também que um manifestante chutou uma moto de um cidadão que não aceitou a interrupção. Frontal desrespeito ao direito constitucional de ir e vir.

3. Li que um líder da manifestação disse que haverão outras paralisações na linha férrea enquanto a passagem de ônibus não for reduzida para R$2,40. Pergunto-me: o que uma coisa tem a ver com outra? Qual o conhecimento técnico dessa pessoa para querer determinar o valor correto da passagem? Que autoridade ele tem para querer imputar um valor e rotulá-lo como inegociável? Qual a sua legitimidade para querer definir isso?

Ontem, fiquei sabendo que já houveram vários demitidos nas empresas concessionárias. O valor da passagem era alto? Também concordo plenamente, mas fato é que os empresários estavam trabalhando com a margem de lucro estabelecida por decreto pelo prefeito anterior, ou seja, legal. Esse corte que Jonas promoveu, após um duro embate com os empresários e atendendo o clamor das ruas, gera um corte de receita que beira a R$300 mil reais mensais, e não sejamos inocentes de achar que os empresários vão pagar essa conta sozinhos. Vai sobrar pra todo  mundo.

4. Outra aberração que li é de que outro suposto líder do manifesto disse que só houve a paralisação porque os vereadores estariam se recusando a atendê-los, inclusive mudando horários e locais das sessões legislativas para fugir do embate. Quanto a isso vale esclarecer:

a) A autonomia dos vereadores na pauta de reivindicações dos manifestantes é nula. Vereador nenhum, em qualquer lugar do Brasil, pode propor leis que gerem despesas ao erário sem a prévia dotação orçamentária própria e específica devidamente consignada. Isso é o que reza na Constituição Federal e nada pode ser feito contra isso.

b) Vereador nenhum se recusou a atender nenhum manifestante, mesmo porque, pelo que me consta até agora, nenhuma comissão veio ao legislativo para propor alguma reunião.

c) Não é verdadeira a afirmação de que a Câmara estaria alterando estrategicamente os programas de suas seções em face aos manifestos. Há muitos anos, como a Câmara Municipal de Barra Mansa é uma das poucas do país que não estabelece recesso parlamentar no mês de julho, as oito sessões mensais obrigatórias são antecipadas nesse mês, e ocorrem geralmente na primeira semana. A sessão itinerante de ontem, realizada no distrito de Rialto, já estava programada há muito, inclusive fazendo parte do calendário de eventos das festividades de abertura oficial do XXV Torneio Leiteiro do Distrito.

5. O movimento começou apartidário e apolítico, mas pelas fotos que vi, não eram poucos os candidatos a vereador que ali se estabeleceram puxando palavras de ordem e postando no facebook. Querem mudar o Brasil ou simplesmente mudar os seus vencimentos e engordarem as suas contas bancárias pessoais?

Reiterando meus respeitos a todos aqueles que pensam "grande" e de forma altruísta e coletiva perceberam que o grande câncer dessa cidade reside na linha do trem, reitero a minha solidariedade a qualquer manifesto que induza as empresas FCA e MRS mexerem nos seus suntuosos cofres e nos reestabeleçam a dignidade social. Quanto aos oportunistas, desinformados, vândalos, mal intencionados, e propagadores de desinformação, só nos resta ofertar o desprezo e pena. Não nos representam.