O DRAMA DE CAMILA.

DOIS ANOS RECEBENDO O "BEM".

Caro leitor, sem querer estragar o seu dia, imagine que exista uma criança de apenas dois anos que tenha uma doença degenerativa chamada distrofia muscular. Imagine que os pais dessa criança já tenham perdido um menininho com a mesma doença. Agora imagine que devidamente essa menina tenha sido internada na UTI Neonatal, através do SUS, por vários meses, até ter condições de se instalar no seu lar. Isso de fato aconteceu. O nome dessa criança é Camila e mora em Barra Mansa. Apesar do triste quadro acima, isso é possível de se imaginar.

No entanto, Camila, no mês de março, foi encaminhada para sua residência pela Secretaria Municipal de Saúde de Barra Mansa com o suporte de uma "homecare" de responsabilidade da empresa DKRAEF HOMECARE (Dra. Katia Reusch Assistência Emergencial Familiar Ltda.), sediada no Centro do Rio de Janeiro, com uma filial na Tijuca. Acontece que essa empresa, que ganhou a licitação promovida pela prefeitura de Barra Mansa, não tem estrutura alguma para prestar esse tipo de serviços, pois há falta de oxigênio, falta de respirador, falta de fraldas, falta de alimentação, falta até mesmo um local adequado para higienização. Vários funcionários dessa empresa, deslocados para o serviço emergencial de Camila, abandonaram seus postos devido a notória falta de estrutura. A (ir)responsável pela empresa dizia sempre que "estava providenciando os reparos mas que não havia necessidade de pressa, visto que a criança estava "BEM"". Outra desculpa dessa pessoa inqualificável é que "era preciso guardar dinheiro para uma emergência e que não era prudente o gasto com "besteiras"". O resultado dessa irresponsabilidade inominável, nas barbas dos órgãos de saúde municipais é que semana passada Camila passou muito mal, o que já era previsto, visto que sofre de problemas respiratórios, neurológicos, musculares, respira por traqueostomia e sua alimentação é feita através de sonda. Devido ao abandono a que foi largada, Camila teve seu quadro agravado sendo acometida por uma pneumonia chegando a ficar com a pele roxa, necessitando de forma ainda mais urgente de respiradores, oxigênio e medicamentos, que lhe foram covardemente negligenciados. Devido ao quadro de Camila, ela foi conduzida para a UPA, pois NÃO HÁ VAGAS NA UTI NEONATAL. Camila já está a quatro dias "largada" na UPA, necessitando urgentemente de ser internada em uma UTI adequada. A família de Camila, humilde e desesperada, que acreditou na vida, acreditou na Dra. Katia, acreditou no SUS, acreditou na Secretaria de Saúde de Barra Mansa, acreditou na Prefeitura de Barra Mansa, agora acredita apenas que Camila possa morrer sem o atendimento necessário, jogada na UPA como está.

Eu sei que se você leu essa matéria até agora deve se encontrar revoltado como eu. Porém na Secretaria de Saúde de Barra Mansa, as preocupações mais constantes são: quem será beneficiado com mais um contrato temporário, quem renovará seu contrato com a PMBM, quem irá para o nababesco Congresso de Maceió pago pela prefeitura, quem receberá vantagens sobre "parcerias" firmadas ou quem será o próximo a levar "porra"da.

Essa triste história de Camila infelizmente é real, e está acontecendo agora, nesse exato momento, nesse dia frio e chuvoso que nos faz refletir o quanto somos impotentes perante a realidade de uma cidade administrada por uma escória de gente.

Sábado, certamente, a mãe de Camila não recebeu rosas das mãos do prefeito, nem esperança, nem respeito, nem amor, nem compaixão. E se depender do tratamento oferecido a sua filha, não se habilitará a recebê-las jamais.

Nas fotos o que foi oferecido para Camila em sua "homecare": Ambu, respirador e bala de oxigênio defeituosos, aspirador de péssima qualidade, lixeira improvisada, pia sem toalha de papel, sabonete ou álcool.