quinta-feira, 14 de outubro de 2010

RACIOCÍNIO LÍMPIDO E CRISTALINO.


PRESSIONANDO DILMA A VERDADE MUDA
Por Yashá Gallazzi

O povo reconhece que a unificação dos programas sociais, através do Bolsa Família, melhorou o repasse direto de renda? Sim, reconhece. E por isso a aprovação de Lula e a intenção de voto em Dilma aumentam, principalmente no Nordeste e no Norte pobres? Sim, aumentam. Ah, então louve-se a sabedoria e a politização do povo, que não se deixa mais enganar pela elite metida a formadora de opinião, e agora decide de acordo com sua própria vontade!
O povo majoritariamente conservador do ponto de vista da moral viu em Dilma e no PT o “perigo” da legalização do aborto? Sim, viu. E também por isso a candidata de Lula perdeu uma quantidade importante de votos na reta final do primeiro turno, ficando bem abaixo do que previram as pesquisas? Sim, foi isso mesmo. Ah, então esse povo, desinformado e despolitizado, foi manipulado por padres, pastores e pela elite conservadora.
Assim funciona a cabeça do petismo. Ou melhor: assim funciona a cabeça de todo o progressismo brasileiro: quando o povo vota de acordo com a agenda das esquerdas, é sábio, livre, finalmente independente e consciente. Quando externa pelo voto convicções morais e de valores que desagradam a agenda progressista, são manipulados. Povo bom, pra eles, é povo que elege candidato de esquerda. O povo paulista, paranaense e catarinense, por exemplo, eles mandariam de bom grado para um gulag.
Eu sou contrário ao aborto, e isso não é nenhuma novidade. Já falei a respeito aqui mesmo, no passado. Não acho que o ser humano tenha autoridade moral para estabelecer marcos iniciais e finais para a vida. No meu conservadorismo – se me permitem a construção – “Aquiniano”, entendo que isso é função de Deus. Mas entendo que é possível haver pensamentos diferentes sobre tão delicado tema. Assim, Dilma pode perfeitamente acha que é preciso legalizar o aborto. E eu posso perfeitamente achar que esse é só mais um dos motivos pelos quais ela não merece presidir o País.
Por que eu, que não voto em Dilma também por conta do apoio dela ao aborto, sou tratado como “obscurantista”, e um sujeito como Edir Macedo é louvado como um “moderno líder religioso”? Ora, é aquela mesma “lógica” já referida antes: os que carregam as bandeiras do petismo e ajudam seus candidatos, são “bons”. Os outros, são “maus”.
Não deixa de ser curioso que o petismo esteja morrendo de amores pelo chefão da Universal, justamente num momento em que ele defende o aborto como forma de – ATENÇÃO AGORA! – política de planejamento familiar. Em um conhecido vídeo, Macedo diz que com a legalização do aborto o mundo teria mais… vida! E que menos crianças cairiam na criminalidade. É um visionário! Vou ajudar os petistas a traduzir o pensamento de Macedo para o povo: “se nasce menas criança, vai ter menas gente virando bandido”.
Agora imaginem algo assim dito por – sei lá… – Jorge Bornhausen. Imaginaram? Pois é… O mundo teria caído sobre a cabeça dele, né? “Eugenista!” “Fascista!” “Bobão!” Mas como a fala é de Macedo, um sujeito favorável ao aborto e – o que é mais importante! – que apóia Dilma e Lula, a coisa ganha ares de humanismo. É isso: na inversão de valores morais promovida pelo progressismo brasileiro, defender o aborto como “política pública de redução da violência” é algo louvável. Já se opor à prática é sinal de “obscurantismo”…
Não deixa de ser curioso que o PT, aquele mesmo partido que acha sensato “dar outra chance” a Dirceu, Palocci e João Paulo Cunha, negue aos fetos a única chance que têm… Mas isso, acreditem, é secundário. Me preocupa menos a posição de Dilma a favor do aborto, do que esse contorcionismo moral e verbal que a campanha dela tem promovido para afetar uma posição que evidentemente não é a dela.
Não sei se Dilma traiu os “companheiros de armas” quando esteve no “pau-de-arara” da ditadura. Eu não estava lá pra ver e hoje só temos a palavra dela, não é mesmo? Mas é fato que Dilma tem traído, dia após dia, suas próprias convicções sobre os assuntos referentes aos valores morais. Bastou que o povo mais conservador do Brasil pressionasse com o voto, e pronto: rapidinho desdisse suas crenças na esperança de que tudo acabasse rápido. Me pergunto: e se apertarmos mais um pouquinho, que outras convicções Dilma confessará e/ou trairá?

*Yashá Gallazzi, é colunista do Perspectiva Política às sextas, editor do blog Construindo o Pensamento.

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