quarta-feira, 21 de outubro de 2009

BARRA MANSA A DITADURA DO SILENCIO

MÚSICA NAS ESCOLAS ... DE CUSTÓDIA.
A DITADURA DO SILÊNCIO ABSOLUTO.
Amigos bmblogueiros,
Conforme o prometido, encaminho tema para debate e discussão.
Como barramansense oficialmente adotado e amante da cidade, vejo com tristeza o estado de baixo-estima em que se encontram nossos conterrâneos. É lugar comum falar que Barra Mansa não oferece opções de lazer e não há como questionar esta ponderação verídica e indiscutível. Fala-se que Barra Mansa é omissa culturalmente e novamente temos que calar perante a verdade absoluta. Mas, creio que nosso papel é tentar identificar as razões para o quadro lamentável que pasmados assistimos com pesar, e só a partir daí, tentar concatenar ações para a reversão desejada por quem precisa de lazer para viver. Atiro a primeira pedra e coloco-me como vidraça perante as possíveis retaliações. Vamos por partes: Primeiramente vamos nos ater a questão das administrações municipais e sua conivência com o abandono denunciado. Enfrentamos o governo da Prefeita Inês Pandeló e depois, oito anos de Roosevelt Brasil, que elegeu seu sucessor e ainda tem notória autonomia no centro administrativo. E o que os dois têm em comum? Já atravessaram a idade das aventuras, não nasceram nem tiveram as suas infâncias em Barra Mansa, nem no Estado do Rio, e são ligados a grupos religiosos austeros e conservadores. Por conseguinte, os seus vínculos com nossas tradições e com os festejos só acontecem em caso de conveniência política (como foi o caso do da lavagem de dinheiro envolvendo o Clube do Recanto e o Barra Mansa Futebol Clube, mas isso é assunto para outra discussão). Aí deparamo-nos com os formadores de opinião da cidade e sua influência na postura administrativa de nossos mandatários. Analisemo-os então: São, em maioria, pessoas idosas, oriundas de famílias tradicionais da cidade, que nos áureos tempos da juventude aproveitaram à exaustão as festas, os bailes, as músicas, as bagunças, os carnavais, enfim, a vida em sua plenitude, na concepção da juventude. Mas hoje cansaram. Cansaram por dois motivos: Primeiro, pelo lógico avanço da idade e a queda da vitalidade; e cansaram porque via de regra, não possuem mais recursos em abundância para esbanjarem a vida como seus antecessores. Resumindo grosseiramente: Nossa fina flor da sociedade murchou. Nossa burguesia faliu. As pétalas alvissareiras de gozo de nossa antiga juventude dourada, foram despetaladas. E aí criou-se coletiva e inconscientemente a ditadura do silêncio. Estabeleceu-se na cidade sem a resistência dos governantes, a regra da televisão como forma-mor de divertimento e as pizzas nos finais de semana como símbolo principal de deleite. Algumas famílias ainda economizam durante todo o ano, com muito sacrifício, moedas em cofrinhos para nos verões efetuarem uma pseudo-ostentação em Cabo Frio, onde todos podem ser vistos, no afã de maquiarem as suas lamúrias durante uma vida inteira, vendendo barato uma falsa imagem de sucesso e abundância. Queime-se então na fogueira dos impuros, sem julgamento prévio nem direito a defesa, as mesas nas calçadas, as cordas do violão, os bares animados, as vozes dos virtuosos, os clubes resistentes, os sonhadores e suas blasfêmias, os carnavalescos e suas fantasias, as cabeleiras ao vento, as pernas de fora e as expressões de felicidade. Essas então, condene-as como imperdoável pecado mortal sob o jugo implacável aplicável pelos barões que criaram a cidade e hoje dão ordens nas cadeiras à direita do centro do paraíso silencioso ao lado do Todo Poderoso. E para não enfrentar os possíveis votos controlados por essa classe “dominante”, nossos políticos administradores saciam os anseios reacionários da plêiade fracassada e colocam o seu arsenal a disposição dos dinossauros intelectuais liberando ostensivamente guardas e fiscais sob a batuta de leis interpretadas sem critério nem bom senso. Agora mesmo, somente no Ano Bom e bairros circunvizinhos há a impiedosa e inflexível restrição as mesas nas calçadas, mas nos outros arredores pode, simplesmente porque nos outros pontos não se ousa colocar música ao vivo. Ah! Música ao vivo! Sinônimo de bagunça, orgia, drogas, sexo irresponsável, assassinatos, roubos, estupros, marginalidades e outras atrocidades indescritíveis. Faria tudo sentido, se a prefeitura não propagasse aos quatro ventos o sucesso de seu projeto Música nas escolas. E é aí que mora o maior crime cultural que já vi ser maquinado. Aí que reside a inconseqüência e a maldade em favor da manutenção de poder. Pergunta-me o desavisado internauta: Quem mal pode haver num projeto que ensina com êxito cinco mil jovens, a arte da música? Respondo com prazer: Nada, se esse projeto tivesse início, meio e fim. Se este projeto não servisse para compras superfaturadas e apelos políticos imediatos. Pois caro leitor, o que faremos com esses jovens quando já na sua adolescência, eles não puderem exercer a sua arte em sua própria cidade, onde tudo é proibido? Mandaremo-os para fora, como já fazemos com nossos jovens nos finais de semana sob os riscos das estradas noturnas e alcoolizadas, ou os internaremos em clínicas psicológicas para que o seu talento reprimido não se transforme em revolta e concepção de genialidades criminosas contra a própria sociedade organizada? O assunto é demais extenso e poderia ficar horas em meu computador tecendo conjecturas a respeito. Mas vamos ao que interessa: O que podemos fazer antes que a coisa fique ainda pior do que já está? Creio que podemos usar nossos músicos, que mesmo contra a vontade de nossos governantes locais, também são formadores de opinião, para que, num discurso comum e intermitente, em suas exibições em quaisquer searas, efetuem resumidamente e de forma uníssona, a convocação da população para uma ampla reflexão sobre o tema e se crie uma adversidade para os precursores da intolerância exacerbada. Precisamos criar um código comum para ser usado como uma bandeira pela vida e pela arte, sem coloração ou conotação política ou partidária, mas com um ideal de amor à vida e a beleza da arte e da música. Coloco desde já com a anuência do Presidente, a estrutura da Câmara Municipal para sediar ou intermediar tais desejados encontros, antes que seja tarde demais. Músicos, intérpretes da inspiração, propagadores da alegria, sonorizadores da vida, unam-se pelo bem de quem quer viver em paz e em abundância. È o meu desejo e minha proposta. Sirva-se se desejarem.

Júlio César Fialho Esteves, é Controlador Geral da Câmara Municipal de Barra Mansa, tem 47 anos, mas está muito longe de desistir de viver com prazer; não faz parte das oligarquias fracassadas porque já nasceu em berço quebrado; tem 3 filhos jovens que são obrigados a sair de Barra Mansa em busca de vida, e uma mulher que não dorme por causa disso; desafina em caixa de fósforo mas adora música; e acredita que lugar de músico é no céu e não no inferno; e sempre que pode, menos do que gostaria, coloca a galera para tocar, carregando o desejo secreto de fazer alguma coisa a mais por todos nós.

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