quarta-feira, 6 de outubro de 2010

GREVE DOS BANCÁRIOS.


PIQUETE TERCEIRIZADO.
Assim como para milhões de brasileiros, a greve dos bancários me causa também, dissabores e contratempos. Mas, mesmo assim, eu não tinha o mínimo direito de ser contrário a esse movimento. Fui bancário do BANERJ, de 1982 à 1989, e participei ativamente de um movimento grevista, exatamente quando conheci de forma mais íntima a atual deputada estadual Inês Pandeló, ela por sua vez, trabalhando no BEMGE. Assim como acontece hoje, o segmento que mais se afortuna neste país, os banqueiros, pagavam salários muito aquém dos possíveis aos seus empregados que, via de regra, trabalhavam numa carga horária muito superior a oficialmente registrada e não recebiam remuneração suplementar para tal. A responsabilidade em manusear dinheiro alheio sem condições psicológicas ou estruturais confiáveis levaram vários bancários ao divã e até mesmo ao enlouquecimento. As pressões internas visando o lucro selvagem consumiam os ambientes e tornavam-nos campos de batalhas internos visando a captação de recursos sem escrúpulos. Gerentes eram treinados para realizarem lavagens cerebrais em seus subordinados na tentativa de transformá-los em robôs de produção e captação de recursos. Alguns até chegavam ao extremo de induzir belas funcionárias a realizarem favores sexuais para clientes de boa monta financeira.
Não me arrependi de ter feito o que fiz, mas éramos nós, os bancários, que o fazíamos em livre arbítrio e responsabilidade. Éramos nós, eu, Inês, e tantos outros, que à partir das 6 da manhã ficávamos nas portas das agências tentando convencer nossos colegas a aderirem ao movimento. Anos após, fui saber que nossa participação foi “premiada” com fichas de inscrição subversiva no temido SNI. Fazíamos isso com cara limpa e coragem e por isso não me dava ao direito de ser contrário a nenhum movimento grevista dos bancários.
Não me dava, registre-se, pois hoje pelo que vi, pelo menos na região sul-fluminense, o “movimento” tornou-se repugante.
Tercerizou-se o piquete”. Isso mesmo, jamais vi nada igual. Ao invés de bancários na porta das agências convencendo colegas e clientes da razão do movimento, vemos hoje “seguranças” contratados para impedirem o livre direito de ir e vir.
Se eu não visse pessoalmente não acreditaria.
É uma sem-vergonhice sem limites e é preciso que os senhores magistrados em todas as instâncias garantam o direito constitucional do cidadão transitar livremente pelos espaços públicos e comerciais.
Estão instituindo e oficializando as milícias nas portas das instituições financeiras. Isso é inominável e surreal. Se os bancários tem medo de perderem os seus empregos e não mostram a sua cara contratando trogloditas para faze-lo, é claro sinal que o emprego é bom e o salário é justo, pois não querem perde-lo e ainda sobra para pagar “seguranças” para intimidarem a população.
Jamais pensei que um dia eu fosse dizer isto, mas a partir de agora:
SOU TOTALMENTE CONTRÁRIO À GREVE BANCÁRIA.

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