sábado, 9 de janeiro de 2010

POBRE RICA E LINDA JUVENTUDE, ACORDA, O UNIVERSO PRECISA.


SÉRGIO SOARES DA SILVEIRA - ESTAÇÃO BM.

Essa postagem foi retirada do maravilhoso blog Estação BM, com a devida autorização ao autor, Sérgio Soares da Silveira, a quem parabenizo e invejo por ter escrito tão feliz matéria. É longa, mas me provocou um enorme prazer e me deu a angústia de não tê-la escrito, mas com a devida anuência, sinto-me como subscritor. Leiam com calma e reflexão.

* Por Sérgio Soares da Silveira
Recentemente, navegando pela internet, me deparei com uma notícia que me chamou a atenção: um programa de televisão, no canal Multishow, exibiu “matéria” envolvendo a banda Strike e uma fã. A situação é simplesmente ridícula, posto que foi mostrada uma cena em que o baterista ofereceu a uma garota uma mistura de sua urina com suco, a qual foi devidamente ingerida pela pobre fã. Isso mesmo, urina!

E por qual motivo estou falando dessa babaquice aqui para vocês? Ora, há algum tempo venho observando o comportamento da nossa “moçada”, utilizando aqui um termo que soaria perfeito se saído da boca de Dinho Ouro Preto em sua nova fase pseudo-jovem. E eis o ponto da questão. O que está havendo com nossos jovens?

Antes de mais nada, registro aqui que não sou daqueles saudosistas chatos, que desprezam tudo que é novo, defendendo um passado que não mais voltará. Pelo contrário, estou sempre disposto a ouvir coisas novas, descobrir novos sons, imagens etc. Mas o que tem me incomodado é o comportamento da juventude.

A denominada geração 80 encontrou um país em fase de abertura política, onde tudo era possível. A música brasileira, em especial o rock brasileiro, teve um estouro que dificilmente se repetirá. Tamanho era o apetite das gravadoras em fazer dinheiro fácil que qualquer bobagem era rapidamente gravada e lançada em disco. Todos conhecemos vários exemplos disso, que não merecem sequer serem citados. Mas o fato é que muita coisa boa foi criada e/ou lançada nesse período, como Legião Urbana, Paralamas, Titãs e Ultraje a Rigor, para ficar em poucos nomes.

Vieram os anos 90, o mercado se encolheu, mas ainda tivemos bons nomes despontando, como Raimundos, Skank, O Rappa e Chico Science & Nação Zumbi. O mercado fonográfico, sempre estupidamente regido por cidadãos pouco preocupados com a arte, já demonstrava claros sinais de fragilidade, com vendas despencando. E qual seria a melhor solução para uma guinada na situação? A resposta certamente não é facilmente encontrada. Mas digo aquilo que não seria a melhor solução: a total, absurda e desrespeitosa manipulação da música; a venda inconseqüente da arte como mero produto descartável; a geração de milhares de artistas fabricados, desprovidos de um mínimo de talento, os quais invariavelmente vem sendo encarados como salvação do moribundo mercado.

É claro que para alguém que nada entende de música, como muitos de nossos executivos musicais (salvo exceções, que apenas confirmam a regra), vale muito mais a pena valorizar um artista barato, que gravará sua “música” em qualquer estúdio, com qualquer equipamento e por um valor módico, do que investir na carreira de um artista consagrado ou em algum jovem talentoso, cujo retorno financeiro apenas aparecerá após alguns anos de estrada. Não são valorizados os artistas de catálogo, quando o lucro da gravadora é proveniente da venda, amiúde e persistente, de vários discos ou músicas.

Tocando nesse ponto, do catálogo do artista, fico me perguntando por que cargas d`água não temos uma rede virtual de distribuição de música em nosso país? Por que motivo as grandes gravadoras não disponibilizam a venda on line de seus riquíssimos e preciosos catálogos, que jazem abandonados em seus porões? O dano só não é maior ante a persistência de pessoas como Charles Gavin, que minimiza as perdas, fuçando os arquivos e conseguindo, certamente com grande dose de resistência, o relançamento de algumas jóias.

E voltamos ao início de meu texto. O que está acontecendo?

Me parece, e a opinião aqui é extremamente pessoal, que após passarmos por um período de desbunde nos anos 80 e pela ressaca dos anos 90, chegamos ao fundo do poço. Ninguém contesta mais nada. Ninguém está indignado com nada. A matéria-prima continua farta, basta uma olhadela em nossa querida Brasília. Mas não vejo movimentação, não vejo tesão... As vozes resistentes, espalhadas por nosso país, são ignoradas e abafadas pelo lixo que nos é empurrado pela mídia (rádios, televisão e internet). Os jovens estão mais preocupados com a aparência que com a essência. O avanço tecnológico é frenético. As campanhas publicitárias nos dizem que devemos trocar nossos telefones celulares a cada seis meses (ou até menos) pois o antigo já está obsoleto. O DVD já era, agora a onda é o Blu-Ray. Os aparelhos de televisão estão cada vez mais modernos. Tudo é passageiro, veloz, e nossa juventude está aí, perdida em meio a esse mundo de informações, e ante o grande número de possibilidades de ação, não escolhe nenhuma. Fica parada, digerindo o lixo que lhe é empurrado. Ah, Renato Russo, aí está a verdadeira Geração Coca-Cola...

O que vemos hoje em dia, sendo empurrado e digerido por nossos jovens:
1) Adolescentes americanos cantando suas musiquinhas de seriado de TV, enaltecendo a vida descartável e fútil.

2) Bandinhas de quinta categoria, intituladas de “rock atitude” (alguém poderia mandar esses moleques irem escutar Camisa de Vênus, Raulzito ou Mutantes, para entenderem o que é atitude).

3) Duplas do que agora é chamado de “sertanejo universitário”. Meu Deus, sertanejo universitário é o cúmulo do paradoxo. Sertanejo é Pena Branca & Xavantinho, Sérgio Reis etc.

4) A galera da “axé music”. Proliferam-se a uma velocidade estonteante. A cada verão é uma novidade, invariavelmente com uma letra de péssimo gosto e de conotações sexistas, acompanhada sempre por alguma jovem pobre de neurônios. Tudo é descartável. A que ponto cheguei. Admito. Tenho saudades do Olodum e do Araketu.

4) Esse ritmo (não música, pois não há melodia) carioca, cujo primeiríssimo crime foi a indevida utilização do termo funk. Funk é James Brown, Kool & The Gang, Tim Maia e Sandra Sá nos bons tempos.
Como disse, a visão é pessoal, mas vejo muita coisa ruim, de baixa qualidade na grande cena, na grande mídia. E a juventude, na velocidade de nosso mundo moderno, vai consumindo música como se fosse um produto cada vez mais descartável. Não deveria ser desta forma. Acima de todos os interesses financeiros, música é arte, e como tal deveria ser tratada. Pena que o mercado fonográfico tenha se prostituído tanto, a ponto de se tornar vítima de seu próprio veneno...
PS.: Escrevi esse texto ao som do CD Blues Legends, com gravações originais de Howlin`Wolf, Muddy Waters, Ray Charles, B. B. King, John Lee Hooker, Lightning Hopkins, Little Walter & Otis Rush, Little Milton, Annie Laurie, Sonny Boy Williamson, Big Mama Thornton, Willie Dixon, Buddy Guy e Buster Brown.

* Sérgio Soares da Silveira possui 36 anos, e gosta de música de qualidade, sem ligar para rótulos e classificações. Escreve também no blog Confraria Jurídica.

6 comentários:

  1. Ótimo texto, crítica perfeita...e a mesma sensação de ler o que gostaria de ter escrito!
    Nos anos 80, apesar de criança, a grande produção cultural na música e em outros meios, não me passou despercebida. Havia mais expressão, indignação, atitude, rebeldia justificada e acima de tudo, inteligência e consciência pra fazer tudo isso.
    Hoje vejo pessoas frias, mortos vivos andando nas ruas, acostumados com tudo e preocupados com o que podem consumir, consumir no sentido literal e em todos os outros sentidos.
    Sou saudosista assumida (sem ser chata também Sr. Autor, rs), e um dos maiores motivos é justamente este, ver estagnar, ou melhor, declinar, algo que poderia ser uma crescente, toda aquela euforia em produzir coisas úteis e ótimas de ouvir, ler, ver...quão maravilhoso seria...
    Tenho uma filha de 5 anos que, se eu quiser que ela tenha acesso a músicas verdadeiramente infantis, tenho que recorrer a meus acervos (a exemplo do Balão Mágico, Trem da Alegria), ou alguém pode me informar um grupo musical infantil da atualidade que possa ser ouvido sem contra-indicações?
    Tentaram lançar uma versão infantil do "É o Tchan", é isso que a minha geração consegue oferecer às crianças.
    Tentando com veemência não ser chata, até que me provem o contrário, músicas como as de antigamente, dificilmente teremos, não com esta geração que aí está posta...

    Abraços,
    Kenia.

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  2. Julio,
    Faltando pouco mais de um mês para o Carnaval ainda não vi nenhum comentário na cidade quando essa importante festa principalmente para os jovens, com esses acidentes em Angra dos Reis, é mais um motivo para a Prefeitura de Barra Mansa , se preocupar em organizar essa festa, mesmo sendo no parque da cidade.
    Ainda não vi sequer um ensaio de bloco , nem mesmo do Terreirão do Leão, como não temos um linha direta com a prefeitura e todos de lá leiam seu blog, acaba sendo um canal de comunicação, por favor , falem sobre o carnaval e façam uma festa digna para o povo de Barra Mansa

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  3. Kenia, reitero minha admiração e minha saudável inveja de não ter tido a capacidade de escrever tão sublime feliz texto. O autor foi diretmente no cerne da questão que envolve todas as minhas esperanças. Mas , confesso, que como qualquer consciente de meia idade, temos responsabilidade sonre o quadro desenhoado, incluidno o próprio autor. Só mes resta pensar no que podemos fazer para darmos uma cota de contribuição melhor para a nossa juventude, mas apesar de tudo, intuiitivamente, eu ainda acredito é na rapaziada.
    Manoel, como retratei por várias vezes no blog, a ditadura do silêncio absoluto que aoda de mãos dadas com nosso últimos governantes, está lúdica e feliz por mais uma conquista, o fim se osso carnaval, muito embora, reconheço, tal óbito já se deu há muitos anos. O retrato mais simplpório e definitivo é que o parco festejo carnavalesco é realizado em fente a um cemitério.
    Nada mais precisa ser dito, mas muito há para ser feito, mas , infelizmente não creio que seja realizado pelas mãos que hoje carregam as rédeas do poder municipal.
    Não está na veia nem no cérebro.

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  4. Até que enfim teve um prefeito com coragem pra acabar com o mictório nas portas dos pessoas descentes e de bem em bara Mansa. O carnaval, a mais animalesca festa pagã que se tem notícia não trazia nada de bom para nossa cidade, deixando um rastro de sujeira física e moral.
    Lá no parque da cidade o lugar pelo menos é fechado e a pouca vergonha fica lá dentro.

    Wanda.

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  5. Julinho,

    Também acredito, ou pelo menos tento, afinal não podemos perder a fé, isso piora tudo...também não vou me eximir de culpa e nem me excluir do grupo do qual eu falei, faço parte disso. Modestamente tento fazer minha parte, com meu trabalho na educação, na moda, na educação da minha filha, nos meios que tenho pra me expressar, e ando pensando onde mais posso contribuir...

    Um abraço,
    Kenia!

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  6. Kenia,
    Só fato de discutir o assunto, já a coloca na procura pelo caminho. Você é peça fundamental para a melhoria do quadro aí no Maranhão. Boa sorte.

    Wanda,
    Sem comentários. Para lhe responder vou fazer uma postagem especial assim que tiver tempo.
    Mas, me causa arrepios o seu raciocínio simplório, egoísta e infeliz.

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