AQUI JAZ UM CARNAVAL.

DORMITÓRIO

Estive ontem no início da madrugada no parque da Cidade. A intenção era dar um abraço no meu amigo Hebert Levy e ver o que a Prefeitura de Barra Mansa preparou para o carnaval. O local estava vazio e triste. Havia umas duas ou três moças ensaiando uns passos dançantes e umas seis ou sete “candidatas” a moças, idem. Tudo ao som do Cordão da Bola Preta. Talvez a banda jamais tenha tocado para uma platéia tão reduzida e desanimada. Vi o Secretário de Cultura transitar de um lado para outro, provavelmente constrangido, pois samba e carnaval não fazem parte das suas preferências, eruditas por natureza e criação. Vi também um outro assessor que cuida das locações para barraqueiros em outro ponto. Matemáticas financeiras. Rapazes e bingos custam dinheiro. Vi um outro assessor com uma pequena comitiva no “camarote” supostamente destinado às “autoridades”. Vi uma barraca vendendo um whiskye falsificado a preço de cachaça. Vi vários guardas municipais, o que leva a supor que será um carnaval seguro. Vi uma passarela de asfalto pintada de branco (até legal), mas ladeada pelo Rio. Não deve ter muita graça desfilar com o pescoço virado para a esquerda pois a direita só se verá rio e mato. Entre a passarela e o epicentro do evento tem um modesto parque de diversões. Inadequado. Talvez se a passarela fosse colocada na rua principal desfechando o ciclo na parte coberta, desse um pouco mais de emotividade, mas quem sou eu para discutir com as mentes privilegiadas dos especialistas que projetam o carnaval de Barra Mansa. Vi um locutor tecendo loas para a administração, a ACIAP e a programação do evento. Eufemismo exagerado e forjado. Vi bastante gente debochada e outras desapontadas. Todas, tristes e sem muita graça no olhar.
Não deu para esperar o Hebert Levy tocar. O quadro estava melancólico demais e não quero estragar o astral do meu carnaval.
Torço para que quem for “desfrutar” dos dias vindouros no parque da Cidade, encontre um ambiente melhor e mais animado, afinal, ninguém esperava que quinta-feira, mesmo com o Bola Preta tocando, tivesse muita gente no parque que é vizinho do cemitério.
Esse local, que já foi palco de torturas militares e tem como vizinho ilustre o destino fatal dos corpos desprovidos de vida, não é, e jamais será o ponto ideal para se apresentar um desfile de escolas de samba e de blocos carnavalescos.
É evidente que ninguém que estará no parque da cidade nesses dias o fará como primeira opção. Uns estarão trabalhando, outros sem condições de viajar, e outros por mera curiosidade. Mas enfim, não é o sonho carnavalesco de ninguém com um mínimo de bom gosto.
Mas o que se há de fazer? Para uma cidade que assume a cada dia a sua condição de mero dormitório o carnaval local é apropriado, pois bastou ficar apenas trinta minutos, que me deu uma vontade enorme de dormir.