segunda-feira, 28 de junho de 2010

GENTE BOA. VIVO PARA SEMPRE.

LÁ SE FOI UM "BOA PRAÇA".
Neste final de semana perdemos o Professor Moacyr Chiesse.
Morre com ele, um pouco da ética e da dignidade de nossa cidade. Moacyr foi deputado federal e prefeito de Barra Mansa sem alterar o seu modesto padrão de vida. Quando prefeito, Moacyr não tinha os volumosos recursos federais e estaduais que hoje são dirigidos aos municípios brasileiros. Praticamente se governava somente com os parcos impostos municipais cobrados sem causar nenhuma sangria nos orçamentos familiares. Mas mesmo assim, Moacyr destacou-se pela sua competência, simplicidade, simpatia e realizações voltadas, sobretudo, para o embelezamento da cidade e pela melhoria da qualidade de vida do cidadão barramansense. Na foto, flash do início da construção da famosa Praça das Nações Unidas, idealizada por ele há quase 50 anos.
Poderia, para ilustrar esta postagem, contar um dos inúmeros e divertidíssimos “causos” contados ou protagonizados por esse já saudoso líder inato, mas o momento é de pesar, e haverá muito tempo para relembrarmos Moacyr e as páginas memoráveis de sua vida, e prefiro narrar um momento importante e comum vivido junto com ele.
Minha ligação com ele nunca foi muito intensa, mas quando ocorreu foi muito significativa para mim, e talvez, para ele também. Aconteceu um momento em nossas vidas que creio ter sido de alguma importância para a história da cidade, embora não tivesse gerado resultados práticos, mas pelo menos, tentamos mudar o rumo de nossa história atual.
No início de 1992, quando Moacyr já tinha praticamente se aposentado da vida pública, o ex-prefeito Luiz Amaral se candidatara à sucessão do então prefeito Ismael de Souza, e na boca de muitos, já estava virtualmente eleito. O atual coordenador do Procon de Barra Mansa, José Valente, era o candidato do PT. Ismael gostaria de lançar o seu secretário de saúde, Dr. Orlando Fraga, à sua sucessão, mas com a negativa desse, surgia, pela primeira vez, o nome de Roosevelt Brasil com vista às urnas.
Como, apesar de integrante do governo, eu não simpatizava em nada com a candidatura do pachá de Apiacá, não via condições de governabilidade para o PT, e não via com bons olhos a candidatura de Luiz Amaral (mais por alguns de seus correligionários do que por ele mesmo), fiquei engenhando uma quarta via que pudesse motivar a tantos que não se viam contemplados com as opções ora apresentadas.
Freqüentávamos, tanto Luiz Amaral, Moacyr e eu, um simplório “clube”, chamado de “Clube dos “50”, do qual também fui Diretor, onde senhores, a maioria aposentados, se encontravam para jogar partidas de baralho, na época: tranca e pif-paf. Eu era o caçulinha absoluto da turma, mas me dava muito bem com tradicionais senhores que lá curtiam momentos de lazer. Nesse clube, a primeira regra era não aceitar nenhum tipo de aposta em dinheiro, e isto reabilitou diversos “ex-viciados” na jogatina. Alguns, inclusive, já tinham perdido parte ou totalidade de suas fortunas pela compulsividade que enfrentavam os jogos de azar.
Uma bela tarde, em uma mesa do Clube, encontrava-se jogando Luiz Amaral mais três amigos, e numa mesa ao lado, estavam jogando eu, Paulinho Lima (atual Café no Bule) e Moacyr. Perguntei a ele, baixinho: “Professor, se o senhor fosse convidado a ser candidato a prefeito, o senhor aceitaria?”. Ele respondeu: “Bastaria um convite”. Retruquei: “O senhor crê que eu tenha condições de fazê-lo?”. E ele: “Basta um”. E ali nasceu a candidatura Moacyr Chiesse à prefeitura de Barra Mansa em 1992.
Em poucas semanas a idéia foi contagiando a muitos e alterando o quadro político da cidade. Três candidaturas ficaram consolidadas como passíveis de vitória: Luiz Amaral, Valente e Moacyr. Ismael, atual prefeito, mesmo assim, insistia na candidatura Roosevelt, embora, mesmo com a máquina na mão, não saia do chão. Uma tarde, dentro do veículo oficial do prefeito, após insistir veementemente que Ismael desistisse da candidatura de Roosevelt e apoiasse Moacyr, já que ele tinha me dado aval para negociar com o prefeito e fazer todas as concessões possíveis, Ismael, chegou a me pedir para descer do seu carro, pois eu estava ficando repetitivo e insistente.
Depois de uma apuração muito suspeita e contestada até hoje, o resultado final apontou Luizinho com 20 mil votos, Valente com 17, Moacyr com 15 e Roosevelt com 10. Anos após, Ismael rendeu-se a Moacyr e tornaram-se amigos e parceiros políticos. Roosevelt, por sua vez, só ofereceu ingratidão ao seu patrono.
Creio que hoje, Ismael deva se lembrar da minha insistência e deva amargurar o gosto do arrependimento em não ter ouvido o nosso aclame. Teria morrido ali, no nascedouro, esse mal que assolou nossa cidade, mascarado de “bem”.
Naquela eleição tive orgulho em colocar na urna, o “15, gente boa”, como era o slogan da campanha de Moacyr.
A todos os parentes e amigos de Moacyr, embora alguns hoje estejam usufruindo das benesses do “bem”, meus sinceros sentimentos de pesar.
Perdemos todos nós, com o desenlace carnal de Moacyr. Nossas vidas ficam com menos graça, lisura, alegria, sustentação ética e moral. Mas podemos, quem sabe um dia, juntos, resgatar a memória de Moacyr e oferecer para os seus descendentes, a cidade limpa e alegre que ele sempre sonhou e colaborou para realizar para o verdadeiro bem de todos nós.
Numa das passagens folclóricas de Moacyr, já narrada aqui no blog, existe um “causo” em que Moacyr, surpreso ao saber de um determinado eleitor que seu pai havia falecido há anos e Moacyr desconhecia tal fato, ele respondeu subitamente: “Morreu para você, filho ingrato, para mim ele está vivo no meu coração”.
Portanto, Moacyr, gente boa, você estará sempre vivo no meu coração.

2 comentários:

  1. Pois é, coisas do destino. Dizem que precisamos passar por provações, e essa "negação" do Ismael deve ser uma delas.
    Por causa disto, perdemos a oportunidade de termos um prefeito digno e ético e estamos pagando nossos pecados com esse pachá e o Zé da mala.

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