segunda-feira, 18 de outubro de 2010

ENSAIOS DE GOLPES À LUZ DA DEMOCRACIA.


E"X"TRA TÉGIAS. O XIS DA QUESTÃO.
Era 1982. A ditadura militar mesmo disfarçada, ainda dava as cartas neste país, mas não conseguiram evitar as eleições diretas para o Governo dos Estados. Porém, antes de colocarem suas armas em campo, o governo da ARENA, criou dois mecanismos para enfrentar de forma covarde, o seu único oponente, o MDB. Golbery do Couto e Silva, gênio do mal e articulador-mor do militarismo e da opressão (um Zé Dirceu de antigamente) deu dois tiros supostamente certeiros.
O primeiro, consistia em possibilitar o pluripartidarismo, sobre a égide de uma democracia falsa, para dividir a oposição. Desta forma, foram criados o PDT (para os brizolistas discidentes do getulismo), o PT (que abrigou correntes de ultra-esquerda que não se alinharam com o MR-8, que por sua vez, permaneceu na sombra do PMDB), o PMDB propriamente dito (herança do MDB) , o PTB (doado aos getulistas na pessoa de Ivete Vargas) e o PDS (ex-ARENA e partido dominante e situacionista).
Mas para não correr riscos, a tirania militar ainda provocou outro entrave, e regimentou uma eleição totalmente vinculada, onde todos os cargos a disposição no pleito de 1982, deveriam ser ofertados para a mesma legenda, caso contrário, seriam anulados. Ou seja, os votos para governador, senador, deputado federal, deputado estadual, prefeito e vereador, deveriam ser dados para candidatos do mesmo partido para terem validade. Ora, como os novos partidos ainda não tinham se estruturado no interior do país, ficaria mais fácil uma vitória ampla do PDS (antiga Arena).
Segundo pesquisas prévias, a estratégia vinha dando certo de Norte à sul, e o PDS liderando com folga de cabo à rabo. Mas havia uma exceção perigosa: Os cariocas.
Aqui no Rio, todos os cinco partidos habilitados lançaram candidatos ao Governo do Estado.
O PDS (11), lançou Emilio Ibrahim, o PDT (12), Leonel Brizola, o PT (13), Lysaneas Maciel, o PTB (14), Sandra Cavalcanti e o PMDB (15), Miro Teixeira.
O candidato do governo militar, do PDS, Emilio Ibrahim, não fazia água nas pesquisas e a disputa aparentava ser polarizada por Miro Teixeira (então herdeiro do Chaguismo) e Sandra Cavalcanti (que intitulava-se a herdeira viva do lacerdismo).
Mas os militares ainda não tinham dado a batalha como vencida e passando por cima de toda a legislação vigente (o que era comum para os militares), tirou extemporaneamente Emilio Ibrahim do páreo, e também extemporaneamente, lançou Moreira Franco, que vinha de uma administração bem sucedida à frente da Prefeitura de Niterói.
Intenso alarde fizeram os situacionistas e a campanha "Nem Miro nem Sandra, agora é Moreira" cresceu bastante a alterou todo o quadro. Com o crescimento de Moreira, Lysaneas e Brizola continuavam patinando e Sandra Cavalcanti foi diretamente afetada, visto que Moreira arrancava votos supostamente estacionados na direita ideológica, mas mesmo assim, a tática ainda não lograra êxito, visto que Miro Teixeira mantinha-se no seu patamar sólido e líder.
Mas para a ditadura nada era perdido antes de tentadas todas alternativas. E resolveu-se então dar mais espaço para candidaturas de esquerda no afã de tirarem votos de Miro e levarem Moreira à vitória. E o escolhido foi Leonel Brizola, que optou corajosamente por se instalar no Rio de Janeiro ao invés do Rio Grande do Sul, onde supostamente à época teria mais facilidades de sucesso, visto que já tinha sido Governador do estado gaúcho. Não havia segundo turno na época, é bom que se registre, pois como já disse, o objetivo era dividir e não possiblitar agregações oposicionistas.
Subestimaram o velho caudilho e lhe deram estrutura, luzes, micrones e espaços. O resultado todo mundo lembra: Brizola agarrou-se a oportunidade e mesmo em um partido desestruturado no interior, venceu a eleição atropelando um por um, todos os demais oponentes. Na sua aba também elegeram-se figuras caricatas para o Congresso Nacional como o Cacique Juruna e Agnaldo Timóteo, esse último então, o mais votado do país para o Congresso nessa atípica eleição.
A ditadura ainda tentou malversar os votos ofertados ao velho caudilho na operação vexatória que ficou conhecida como o Escândalo PROCONSULT, mas o Jornal do Brasil e mais alguns órgãos de imprensa evitaram que mais essa artimanha sagrasse-se vitoriosa.
Porque recordo deste fato às vésperas do segunfo turno presidencial?
Por que, guardadas as proporções, vejo acontecer nessa eleição atual mais um sintoma claro de possível tiro no pé.
Pouca gente sabe ou divulga, mas temos indícios claros, que Governadores do PMDB, na semana antecedente à eleição do primeiro turno, contactaram prefeitos fiéis de suas bases e recomendaram para seus seguidores, o voto velado na Marina Silva.
Tal estratégia quebrou Institutos de pesquisa e provocou um folgado segundo turno.
Não foi só a surpreendente "onda verde" que levou Marina de um patamar de 14% para 20% em apenas tres dias. Houve nos bastidores da esfera maior do maior partido do país, o PMDB, esse ato desafiador e maquiavélico.
E porque os caciques do PMDB tomaram tal decisão?
É simples. Toda a população brasileira assistiu Lula esbravejar que ele era a "opinião pública" e nada o afetaria. Todos viram que ele nas entrelinhas já orgulhava-se de ter eleito um "poste " para sucede-lo do alto de sua incontestável popularidade e aprovação de governo.
E tal procedimento não era só da boca para a fora. Nos corredores palacianos, Lula ofuscava o PMDB, e o próprio vice da chapa de Dilma, Michel Temer, a cada dia ficava sem espaço na campanha supostamente vitoriosa. Sarneys, Renans, Cabrais, Moreiras, e outras raposas não aceitaram tamanha desfaçatez e urdiram a necessidade de um segundo turno para que Lula e a alta cúpula petista, retomasse a humildade e novamente abrisse a mesa para as negociações tão prazerosas para o PMDB de hoje em dia.
Os malandros não sabiam que este tiro poderia acertar o próprio pé e possibilitar a vitória de Serra? Claro que sim, penso eu, mas chamo isso de "risco calculado". Mesmo sabendo que haveria o risco de Serra aproveitar a oportunidade para que em paridade de tempo e oportunidades na mídia, desmascarar a sua oponente "fabricada" e vencer o pleito, os mandatários da legenda pemedebista sabem, pela força política que possuem dentro do Congresso Nacional e nos governos estaduais, que é humanamente impossível governar sem negociar com o PMDB. Collor tentou contrariar esta regra e deu no que deu.
Enfim, a arrogância de Lula fê-lo pagar bom preço. Mesmo que as novas tendências eleitorais não se confirmem e Dilma freie a ascenção meteórica da campanha de Serra, Lula sairá mais machucado desta briga do que a sua vã filosofia, mesmo em rompantes pessimistas, poderia lhe fazer supor.
E isto, por si só, já é uma vitória imensa da população brasileira.
Ninguém neste País, pode se achar acima de Deus ou do bem ou do mal, principalmente com uma série de casos escabrosos que aconteceram nos bastidores e e cuecas do seu governo oportunista e ingrato com os antecessores, que construiram a democracia e a estabilidade que ele tanto se beneficia e despreza.

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