sexta-feira, 3 de junho de 2011

REMAKE NOVEMBRO 2009 - VII



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PUBLICADO EM 12 DE NOVEMBRO DE 2009
FOLCLORE DE BARRA MANSA – VI.
Era posse da Inês Pandeló na Câmara Municipal. Dia 1º de janeiro de 1997. Pela primeira vez o PT iria administrar a cidade. Pela primeira vez uma mulher seria Prefeita de Barra Mansa. Evidentemente, o plenário e as imediações da Câmara Municipal estavam lotados. Todo mundo queria falar. Regimentalmente, entre os vereadores, somente os líderes partidários teriam direito a fala. Pois bem. Uns dias antes, um determinado vereador que sempre teve imensas dificuldades de conviver com a língua portuguesa, me pediu para elaborar o seu discurso. Sabia que era perigoso, mas encarei. Preparei o pronunciamento com todo o zelo, e caprichei nos detalhes para ver se dava certo. Quando era para aumentar o tom de voz eu aumentava o tipo de letra, quando era para fazer uma breve pausa eu acrescentava espaços entre palavras, e assim por diante.
Chegou o dia da festança cívica e o calor era insuportável. Fiquei no plenário, mais por curiosidade do que por interesse, até que chegou a hora do nobre edil realizar a sua fala. Nos primeiros segundos já dava para perceber que a emenda tinha ficado pior que o soneto. Ele acrescentava letras onde não existiam, comia outras, criava pausas, errava dicção, enfim, um verdadeiro desastre. Quietinho, não me manifestei para que ninguém percebesse que era eu o autor do discurso, mesmo porque na interpretação dele, a oratória tinha se transformado noutra coisa. Mas o pior ainda estava por vir...
Num determinado momento, quando percebi ele aproximando-se do texto que lhe entreguei com dificuldade em ler, imaginei o drama... e aí aconteceu o seguinte trecho:
“Então, senhoras e senhores, em nome do estado democrático de direito.................(10 segundos dramáticos de passaram neste intervalo).........................CONTINUA NA OUTRA PÁGINA....”
Eu tinha colocado bem pequenininho para que ele percebesse que o discurso não tinha terminado, o termo “continua na outra página”, mas ele mandou em alto e bom som.
Fui me esguichando devagarinho e de saindo de fininho, e quando cheguei em casa agradeci por não ter sido descoberto. Me senti um fora-da-lei.

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