quarta-feira, 18 de novembro de 2009

PRIMEIROS E ÚLTIMOS TAPAS.


LEONEL BRIZOLA, COM CARINHO.

Como citei Brizola na minha última postagem, vu falar um pouco da minha pequena história com ele.
De 10 aos 15 anos morei no Rio Grande do Sul. Lá, movido pela mídia paga pelas forças pró-revolução militar, aprendi anão gostar de Leonel Brizola. Depois, já no Rio, não gostei quando ele voltando do exílio, fundou o PDT e lançou-se a Governador do Estado. Acreditava que isto dividiria e enfraqueceria a oposição ao Governo Militar, e por trás da abertura política e a liberação de mais três partidos, poderia haver esta cilada engenhada pelos generais autoritários.
Brizola ganhou a eleição para Governador do Rio e fez um primeiro governo de mediano para ruim. Não posso discordar de que ele usou a máquina pública para alcançar o seu sonho de ser presidente a República. Mas o carioca gostou dele. Não a ponto de eleger o seu candidato a sucessão, Darcy Ribeiro, mas ao ponto de reelegê-lo como Governador após sua fracassada candidatura à presidência, onde por meio ponto percentual, ficou fora do segundo turno, que tiveram Lula e Collor como selecionados. Talvez se Brizola fosse para o segundo turno a história teria sido diferente, mas como o “se” não existe na política, deixemos de lado.
Antes de Brizola vencer com facilidade a eleição para o seu segundo mandato a frente do Governo do Estado do Rio, me encontrava na condição de Secretário de Governo de Barra Mansa, com apenas 28 anos. O prefeito era Ismael de Souza. Mesmo antipático a Brizola, eu sabia que a eleição já estava ganha para ele, e convenci o prefeito de Barra Mansa a aceitar o convite de Noel de Carvalho para irmos à casa de Brizola em Copacabana e fecharmos apoio à ele. Barra Mansa em primeiro lugar, pensei. Já estávamos cansados de ser preteridos pelo Governo estadual.
Então, dois meses antes de pleito, fomos ao prédio de Leonel Brizola. Eu, o prefeito, Noel, vereadores da base, secretários municipais, enfim, uma delegação de aproximadamente 20 pessoas. Ao chegarmos lá e estarmos frente a frente com o líder gaúcho, senti uma emoção estranha. Já havia falado com diversas autoridades nacionais, mas nenhuma tinha me causado a reação que Brizola me causou. O seu carisma era diferenciado. Havia algo em volta dele que até hoje não consigo explicar. Ao ser apresentado a Brizola pelo Prefeito, ele me deu dois leves tapas afetuosos no rosto e disse-me: -Eu gosto de ver a juventude no poder. Conversamos por mais de três horas e inclusive o interpelei por ele achar que Resende era maior que Barra Mansa. Não aceitei o fato de quem tinha governado por quatro anos o estado, não saber das dimensões nem da população de seus municípios. Brizola só pensava em Brasília até então. No meio da conversa, veio a confissão de Brizola: - Sei que meu primeiro mandato, foi usado em prol do bem maior (A presidência). Agora, em compensação, beijarei as mãos do filhote da ditadura (Collor) para trazer benefícios para o Rio de Janeiro.
Não acreditei e voltei mais desconfiado ainda.
Brizola cumpriu o prometido, e graças a sua solidariedade à Collor, trouxe CIACS e a Linha Vermelha para o Rio. Graças a esse apoio, Collor perdeu o seu mandato, pois Roberto Marinho não aceitava a idéia de seu pupilo conviver com seu pior adversário.
Desde então, passei a ver Brizola sobre outra ótica. Percebi, que ele foi o brasileiro mais perseguido e investigado pelas poderosas Organizações Globo e o SNI, sem que jamais tenham pego uma falha moral em toda a sua extensa vida pública. A cada dia fui me identificando mais com o caudilho e percebendo que estava diante do maior brasileiro vivo.


Poucos meses antes de sua morte, Brizola visitou Barra Mansa e eu fui convidado para fazer o cerimonial. Antes de lhe passar a palavra, solicitei, como de praxe em eventos similares, a execução do Hino Nacional. Ao terminar o hino e antes de anunciar a sua fala, extrapolei de minhas funções, e falei: - Governador, aprendi nos meus cursos de cerimonial, a mirar a bandeira acional durante a execução do Hino. Hoje, desobedeci a lição. Olhamos para a bandeira quando o hino é entoado, pois é o maior símbolo da pátria presente. Hoje, não olhei para a bandeira, olhei para vossa excelência, que é o maior símbolo vivo de nossa nação.
Após falar isso, anunciei em bom tom a fala do Governador e entrei para o camarim. Estranhei que tinham passados três minutos e nenhum som havia sido realizado. Pensei que era problema técnico. Quando então o Paulinho, aquele Deputado paulista presidente da Força Sindical, entrou no camarim e me falou: -Julinho, o Governador não vai falar enquanto não lhe der um abraço, volte ao plenário, por favor. Voltei, e Brizola me deu outro tapa com carinho, e disse-me: -Meu filho, recebi homenagens durante toda a minha vida, mas o que você falou, foi em poucas palavras, o resumo de tudo que trabalhei na minha vida para ouvir. Muito Obrigado.


Brizola morreu meses depois. Morreu um pouco do Brasil também. Morreu um pouco da nossa coragem de discutir sobre coisas óbvias e verdades aparentemente absolutas.


Nunca fui brizolista de carteirinha, mas nunca admirei tanto alguém em minha vida nos meios políticos.

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