terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

EMOÇÕES E FANTASIAS.


CARNAVAL DE IDÉIAS DESCONEXAS.

Passei excelentes carnavais em minha vida. Outros nem tanto. Já me senti o rei dos salões dos bailes que frequentei e não haveria como contar quantos beijos dei em vão.

Já tive o prazer de sair na Diretoria da minha escola preferida, a minha Portela de vida, que jamais me sairá do coração.

Já passei triste, "desprevinido financeiramente", mas mesmo assim o carnaval mexe comigo. Continuo aproveitando meus carnavais, cada um a seu tempo e a seu jeito, mas sempre feliz em viver essa imensa fantasia coletiva.

Muita gente acha que deveríamos viver em eternos natais, dividindo solidariedade e reflexão. Concordo. Mas também sou adepto da teoria de que deveriamos viver em eternos carnavais. Porque por incrível que pareça, é quando vestimos as fantasias de carnaval, mesmo sem trocarmos de roupa, que acabamos tirando nossas máscaras e revelando nossas maiores initmidades e nos permitindo mostrar um pouco mais de nós mesmos, na verdadeira essência. Carnaval é um sonho, mas que nos aproxima paradoxalmente da realidade, aquela realidade que realmente importa: a que existe dentro de nós mesmos, escondidas ora por hipocrisia, ora por coveniência, ora por medo de ser feliz.

Em homenagem ao carnaval, principalmente ao que existia antigamente na minha cidade, sepultado pela ditadura do silêncio absoluto que governa há mais de uma década, e que não tive o prazer de conhecer, fiz o texto abaixo, um pouco sem nexo, mas para mim, com todo sentido.

Quem quiser gastar um minuto de leitura descomprometida, fique a vontade.

ERA SEMANA DE CARNAVAL.
Os surdos já cantavam e os mudos sorriam inebriados nas tórridas noites do verão.
As fantasias quase prontas, transparentes e marotas, escondiam sutilmente sua real inspiração.
As favelas, as calçadas, e as moradas enamoradas, já suavam extasiadas, o calor da estação.
As crianças, iniciadas, experimentavam o sabor da fantasia coletiva inspirada no amor em forma de canção.
Os poetas, ora tristes, ora esperançosos, criavam versos amorosos captados na energia que se exalava na ansiedade de um gesto feliz, quiçá não em vão.
As rimas obrigatórias, desnecessárias por ora, se encaixavam no universo conspirado em favor da graça existente no jogo da sedução.
Palavras soltas por arremedos de loucuras sãs e necessárias, viraram odes ordinárias nos enredos surreais de artistas sonhadores que adornavam nosso imenso salão.
Conexão e independência, tão distantes pela coerência, desfilavam de mãos dadas no inconsciente dominante no terreno abundante do meu país coração.
As mazelas, esquecidas, se guardavam conformadas, descansando amedrontadas pelo força de uma incandescente e louca nação.
Tão iguais e tão distintos, todos nossos pecadores pré-arrependidos se irmanavam no ardor íntimo, de bordado pessoal e tão ínfimo, de arrebatadora e transbordante paixão.

Desejo,
beijo,
queijo,
tão infantil nosso bordejo,
mas tão memorável na nossa recordação.

Carnaval,
folia,
fuga voraz do dia-dia,
descanso,
prazer,
alegria,
vida que contagia,
tanta coisa que irradia nesse sol de ilusão.

Somam-se atos,
unem-se corpos,
gastam-se vidas,
uma leva de razões incontidas,
que nos tornam selvagens e anjos,
sublimes arcanjos,
em pecados pedaços de cada ser são.

O coração,
maior sambista,
marcação de ritmista,
abre os braços pro turista,
que acaba de chegar.

E o povo enfim,
desencrava sua revolta,
com o mundo em sua volta,
só,
só para ele sambar.

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