sexta-feira, 26 de março de 2010

POUCO AMOR ME BASTA.


INDIVÍDUOS.

Baseado numa crônica de Rubem Alves, enviada pelo amigo Ricardo Rosas, essa será a nossa mensagem tradicional de final de semana:

Essa semana foi atípica para mim e para o blog. Resolvi, após devidamente provocado, contar a origem maior do meu ressentimento para com o ex-prefeito Roosevelt Brasil. Sabia que seria alvo de críticas acaloradas e as costumeiras ofensas enviadas pelos anônimos covardes e outros que utilizam de nomes fictícios para enfeitar uma suposta credibilidade. Recusei a postagem de alguns comentários belicosos, ofensivos e chulos. Não faria bem para mim nem para leitor algum a publicação. Enfatizei, e me permitam dizer, a coragem de lavar a roupa de janelas abertas.

"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece", observou Nietzsche. É o meu caso. Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo. Por medo. Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega: "Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos". Tardiamente. Como me considero no entardecer da vida, ganhei coragem.
Vou dizer aquilo sobre o que me calei: "O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo. Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política. Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar: A democracia é o governo do povo. o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que o povo prefere.
A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica. Nada mais distante dos textos bíblicos. Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas. Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na planície, se entregasse à adoração de um bezerro de ouro. Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.
E a história do profeta Oséias, homem apaixonado! Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava! Mas ela tinha outras idéias. Amava a prostituição. Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão. Até que ela o abandonou. Passado muito tempo, Oséias perambulava solitáriopelo mercado de escravos. E o que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como escrava. Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse: "Agora você será minha para sempre". Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus. Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta. Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável. O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras. As mentiras são doces; a verdade é amarga. Por isso compreendo a idolatria que muitos tem pelo Lula, a tolerância que muitos tem pelo Roosevelt e os questionamentos que são dirigidos a mim. Eu gosto da verdade, e na maioria das vezes, a verdade é inconveniente.
Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo. No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões. E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos! As coisas mudaram. Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo. Alguns de Barra Mansa, na sua desesperança, gostariam que me lançasse aos leões famintos. Um dia me lancei, e só Deus sabe a força que fiz para sobreviver. O povo é um dono de circo cruel.
Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado. O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão. Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens. Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras. O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade. Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham. Eu optei por ser um indivíduo, e isso provoca ira no povo.
Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo. Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás. O mesmo povo que elegeu Lula, o mesmo povo que elegeu Roosevelt, e por isso jamais me candidatei, pois esse mesmo povo não me elegeria. Tenho vários gostos que não são populares. Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos. Mas, que posso fazer? Gosto de boa MPB, de um bom jazz, de um bom filme, de um bom vinho, de um bom whisky, de um bom show, de uma boa viagem, de um bom sexo. Não gosto de funk, de música sertaneja, de rebolation, de BBB, de cachaça, de Faustão, de Orkut, de drogas, de homossexualidade, de forró. Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno", à semelhança do que aconteceu na China.
De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute: "Caminhando e cantando e seguindo a canção.", Isso é tarefa para os artistas e educadores. O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança. Eu ainda tenho esperança.
Um bom final de semana com muita paz no coração e muito amor na cama.
Hoje, logo mais estaremos no Celebrare com a patroa de muletas. Três, duas nas pernas e uma no coração, eu.
Apesar de todos os meus defeitos e imperfeições, existem poucos indivíduos que me amam, e isso me basta.
Um beijo em todos, assim mesmo.

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